Livro: OS FILHOS JOVIAIS DE SÃO FRANCISCO – A Morte de Getúlio. Por Sidney Gioielli (In Memoriam) (*)
Esta é uma segunda referência ao livro escrito pelo Advogado Sidney
Gioielli, formado pela Faculdade de Direito da Universidade de Direito –
USP – bem mais conhecida como a do Largo de São Francisco.
Na indicação anterior, o Portal do Sócio e da Sociedade anotou que
“Em linguagem simples, o autor recorda
passagens pitorescas de seus tempos
de estudante do Largo de São Francisco
(1950 – 1954)...”.
Hoje, 24 de janeiro de 2014, o Portal recorda fato relevante para o Brasil
ocorrido há sessenta (60) anos atrás, ou seja, 24 de agosto de 1954, que
foi a morte – por suicídio – do então Presidente GETÚLIO VARGAS.
E, para tanto, publica o comentário do Autor constante do livro:
A MORTE DE GETULIO VARGAS
Em meio ao caos político que se vivia em agosto de 1954, pouco do que se escutava merecia crédito. Os boatos sobrepunham-se uns aos outros e os desmentidos não tardavam a surgir.
O curioso, contudo, é que naqueles dias tumultuados ninguém ousava difundir qualquer boato referente à morte do presidente da República. Essa parecia uma hipótese absolutamente inverossímil.
Por isso, o anúncio de seu suicídio feriu a todos como se fosse uma descarga de alta voltagem.
Agostinho Rizzo e eu atravessávamos o Largo de São Francisco na manhã de 24 de agosto, quando o motorista de um taxi parado no meio da praça desceu do carro e aumentou o volume do rádio:
- Olha aí! - disse-nos ele - O Getúlio se matou.
Não acreditamos e Agostinho chegou até a pilheriar com o motorista. Com a fisionomia grave, porém, ele se limitou a apontar para o rádio de seu automóvel. A nota era clara e não permitia dúvidas, mesmo porque várias personalidades políticas já estavam sendo procuradas pelos repórteres, para comentarem o fato trágico.
Nesse momento, Ademar de Barras concedia uma entrevista pelo rádio, ainda muito agastado com Getúlio que, segundo ele, lhe havia retirado a oportunidade de candidatar-se à presidência da República em 1950. Ademar desabafou:
- Esse é o destino dos traidores!
Mais tarde, ele desmentiria essas declarações, que ouvi com clareza.
A Academia, como a própria nação, estava desnorteada. O gesto extremo do presidente esvasiara a oposição e, a partir daquele mesmo dia, haveria de começar o processo de reabilitação popular da figura de Getúlio Vargas. O mito cresceria a contar da tragédia, algo semelhante ao que se deu após a morte de Júlio César, na antiga Roma.
Com o andar dos dias, a imagem do presidente morto foi-se agigantando e passou a dominar o cenário político nacional, como talvez não sucedera durante sua vida.
Nessa mesma manhã, "Urubu" nos chamou de lado e, em tom soturno, advertiu:
-
Cuidado com o Getúlio.
-
Mas ele está morto, "Urubu" (**).
-
Não custa nada rezar uns três padre-nossos e umas três
ave-marias, porque tem gente que é mais perigosa morta do que viva.Como sempre, o "Urubu" (**) não estava dizendo asneira.
(pgs. 146/147)
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(*) Escrito e editado – 1992 - pelo autor, Sidney Gioielli (In Memoriam).
(**) Explicação do Autor:
“A faculdade tinha seus agregados, homens humildes, vindos não se sabe de onde, que acabavam por gravitar em torno da vida acadêmica...
Nossos agregados eram pouco mais que mendigos, que frequentavam não só o pátio e o Largo de São Francisco, como também sabiam nos farejar à noite, muitas vezes vindo sentar-se às nossas mesas, ainda que com discrição e por breves minutos. De todos eles, o mais notável foi o ‘Urubu’. Ou melhor, o senhor ‘Urubu de Almeida Prado e Assunção’. Trazido de Niterói pelos membros de uma Caravana Atlética, esse pobre-diabo era tão encardido e maltrapilho, que não lhe caberia outro apelido que não fosse o de ‘Urubu’ “.
(pg. 96/97)
Texto preparado por Nívio Terra, Organizador do
Portal do Sócio e da Sociedade.
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